O testemunho de Joeano, o eterno goleador que ajudou o Arouca a chegar à Liga e quer jogar até aos 40 anos
Por: Francisco Frederico
Joeano
diz que tem dois momentos altos na já longa carreira. O «bis» que
permitiu à Académica chegar ao empate (2-2) com
o Marítimo, na época 2005/06, e assim conseguir a
manutenção na última jornada, e esta subida de divisão com o Arouca.
«Ainda
hoje me pergunto se é verdade. Como foi possível
numa vila tão pequena? A beleza do futebol é isto. É de todos, grandes e
pequenos», constata em conversa com o Maisfutebol o máximo goleador da II Liga, com 24 golos (27 no total), aos 33
anos.
«Como faço? Carro novo só dura se o
conservares bem. Eu não bebo, não fumo, tomo cuidado com a minha
alimentação
ou o descanso. Claro que, de vez em quando, jogo
as minhas partidas de sueca, às vezes até tarde», graceja.
Apesar
de ser o mais velho do plantel, o brasileiro
sente-se como um jovem. «O mister lembrou-se, a certa altura, de fazer
uma mini-pré-época,
com um percurso bastante exigente. Havia miúdos
de 20 anos a vomitar, enquanto eu estive sempre na frente do pelotão»,
conta.
Até quando? A resposta veio em jeito de
pergunta: «Qual é o número da minha camisola? Pois é, 40. Espero ter
sorte
com as lesões, mas acredito sinceramente que
ainda vou jogar muito tempo.» Quem tanto marca, não pode pensar em parar
tão
cedo. «Foram 46 golos em duas épocas», enumera.
«Tenho
muita confiança em mim. Eu amadureci muito tarde para o futebol.
Se já a tivesse há cinco anos, teria feito
coisas muito boas», assegura, recordando ainda o interesse do Sporting
justamente
no final daquela época em que «ofereceu» a
manutenção à Briosa.
Ao Arouca, presenteou-o com muitos dos
golos que
valeram a subida, tornando-se no ídolo-maior dos
adeptos. Em jeito de brincadeira, já lhe prometeram uma estátua. O
assunto
fá-lo desatar a rir, mas também revela o quão se
mantém humilde.
«Não sou merecedor disto. Se quiserem fazer,
façam
do presidente, ele sim é quem deve ser
distinguido. Ou então o plantel todo. De mim, que façam uma de papelão,
assim o vento
pode levá-la, e é mais fácil de destruir quando
se chatearem comigo», atira, sem conter as gargalhadas.
Quando
Jorge Mendes lhe lavou o cérebro
Uma
das grandes virtudes de Joeano sempre foi conhecer-se bem e saber os
seus
limites. «Todos temos talento. Temos é de saber
aperfeiçoar o que temos de bom e driblar as dificuldades. Nunca fui
evoluído
tecnicamente, alto, ou bom de cabeça, mas a
intimidade com a baliza. Para quem vive do golo, é algo inexplicável»,
revela.
Ao fim de 15 anos em Portugal, das raízes familiares criadas em Coimbra, e de uma carreira feita desses momentos
mágicos que temperam o futebol, Joeano consegue olhar para trás com total desassombro.
Lembra
como Jorge Mendes
o procurou, ainda militava nos escalões
secundários, e de como o convenceu, por exemplo, a deixar de lado a
ideia de ir para
o Celta de Vigo de Mostovoi e companhia, e, em
vez disso, rumar ao Salamanca. «Fez-me tal lavagem cerebral que, passado
umas
horas, eu já dizia: pronto, vamos lá, quando é
que eu assino?», recorda.
«Ele é o homem. Capaz de surpreender a
cada
instante. Quando pensei que ia ganhar uma coisa
no Salamanca, afinal, ao assinar, vi que era quatro vezes mais», desfia,
sem
esquecer, todavia, aquele que fez a ponte entre
ambos. «O Silva, de Castelo de Paiva, uma pessoa por quem tenho um
carinho
especial.»
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