Enfermeiro despede-se de Cavaco Silva antes de emigrar e implora para não criar “imposto” às lágrimas e saudade
17.10.2012 - 18:51 Por Lusa
Pedro Marques, enfermeiro português de 22 anos, emigra quinta-feira de
madrugada para o Reino Unido, mas antes despediu-se, por carta, do
Presidente da República e pediu-lhe para não criar “um imposto” sobre as
lágrimas e sobre a saudade.
“Quero despedir-me de si”, lê-se na missiva do enfermeiro portuense,
enviada hoje a Cavaco Silva e que tem como título “Carta de despedida à
Presidência da República”.
O enfermeiro Pedro Marques, que diz
sentir-se “expulso” do seu próprio país, implora a Cavaco Silva para que
não crie um “imposto sobre as lágrimas e muito menos sobre a saudade” e
apela ao Presidente da República para que permita poder regressar um
dia a Portugal.
“Permita-me chorar, odiar este país por minutos
que sejam, por não me permitir viver no meu país, trabalhar no meu país,
envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do cheiro a mar, do
sol, da comida, dos campos da minha aldeia”, lê-se.
Em
entrevista à Lusa, Pedro Marques conta que vai ser enfermeiro num
hospital público de Northampton, a 100 quilómetros de Londres, que vai
ganhar cerca de 2000 euros por mês com condições de progressão na
carreira, mas diz também que parte triste por “abandonar Portugal” e a
“família”.
Na mala, Pedro vai levar a bandeira de Portugal, ao
pescoço leva um cachecol de Portugal e como companhia leva mais 24
amigos que emigram no mesmo dia
Mónica Ascensão, enfermeira de 21 anos, é uma das companheiras de Pedro na diáspora.
“Adoro
o meu país, mas tenho de emigrar, porque não tenho outra hipótese,
porque quero a minha independência, quero voar sozinha”, conta Mónica,
emocionada, pedindo ao Presidente da República e aos governantes de
Portugal para que “se preocupem um pouco mais com a geração que está
agora a começar a trabalhar”.
“Adoraria retribuir ao meu país
tudo aquilo que o país deu de bom”, diz, acrescentando que está
“zangada” com os governantes, porque o “país não a quer mais”.
Pedro Marques não pretende que o Presidente da República lhe responda.
“Sei
que ser político obriga a ser politicamente correcto, que me desejará
boa sorte, felicidades. Prefiro ouvir isso de quem o diz com uma lágrima
no coração, com o desejo ardente de que de facto essa sorte exista no
meu caminho”, lê-se na carta de despedida do filho de uma família de
emigrantes que se quis despedir de Cavaco Silva.
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