quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Arouca: o único golo ao Benfica teve um gesto nobre de Aimar

 Duelo reeditado esta sexta-feira
Por Francisco Frederico  
Diogo Santos. O nome pode não lhe dizer muito, mas estará certamente na memória de muitos adeptos do Arouca. O médio atualmente ao serviço do Brasov é o único jogador que já marcou ao Benfica com a camisola do clube da Serra da Freita. Foi em 2010, num jogo para a Taça de Portugal, o único do historial entre os dois emblemas.
Os arouquenses, na altura na II Liga, visitaram a Luz em Outubro e saíram de lá goleados (5-1), perante uma equipa com poucas poupanças. Tirando Roberto, Fábio Coentrão e David Luiz, que ficaram a descansar para o jogo da Liga dos Campeões, dali a quatro dias, em Lyon, estava lá a nata do plantel encarnado da altura.
Luisão, Javi Garcia, Gaitán, Sálvio, Saviola e Pablo Aimar estavam entre os nomes daqueles que tornaram a noite dos comandados de Henrique Nunes num pesadelo, em certa medida já esperado. A diferença de forças era por demais evidente, mas o autor do golo solitário dos visitantes acredita que tudo poderia ter sido diferente.

«Foi um golo que não adiantou de nada»

«Jogaram muitos titulares, talvez porque quisessem manter o ritmo [risos]… Havia jogo na quarta-feira seguinte, para a Europa, e tinham pressa de resolver cedo. Até teríamos aguentado um pouco mais, se não fossem as bolas paradas. O que até foi estranho, porque tínhamos uma equipa relativamente alta», conta o médio ao Maisfutebol
«Depois de fazerem o primeiro [Kardec, aos 24 minutos], veio logo o segundo [Saviola, 31], e com isso ganharam confiança. Se tivéssemos aguentado o nulo até ao intervalo, teria havido outro rumo.» Não foi o caso. O brasileiro bisou sobre o intervalo, Luisão e Gaitán fizeram os restantes. A três minutos do fim, chegou o momento histórico para o Arouca.
«Também foi numa bola parada, um canto da direita. O Luís Filipe adormeceu [mais risos] e eu aproveitei. Ninguém toca ao primeiro poste e, ao segundo, eu apareço a marcar com o pé, por isso só pode ter havido uma falha de marcação. É normal, já estavam numa fase de descompressão», recorda.

A fama repentina

Mesmo assim, Diogo Santos considera que se tratou de um jogo «porreiro», por toda a envolvência, o facto de ter sido na Luz, e de o Benfica ter deixado o adversário jogar. «Ao contrário do que acontece na II Liga, em que há menos espaço, é diferente. Parecia que não havia muito público, mas o primeiro anel, o único aberto, estava cheio. Nem conseguíamos ouvir o nosso treinador gritar com o barulho», relembra.
O golo, pese a pesada derrota sofrida, catapultou o «trinco» para um patamar de notoriedade momentânea ao qual não estava habituado: «Tenho de admitir que foi um dos pontos altos da minha carreira. Nunca o meu telefone tocou tanto [risos]. No final, chamaram-me à entrevista rápida, e eu já nem me lembrava disso.»

Roupeiro não o deixou trocar de camisola com El Mago

O episódio mais curioso dessa partida aconteceu, porém, com Pablo Aimar. «Era um dos jogadores que admirava e falei com ele no início do jogo para trocarmos camisolas ao intervalo. Quando o ia fazer, vêm de lá o roupeiro a dizer que não podia ser, porque não tinha mais nenhuma para me dar para segunda parte…»
Era uma questão da marca de equipamentos usada unicamente para aquele jogo, diferente da que era usada nos jogos do campeonato, e Diogo Santos ficou desolado: «Ainda por cima, quando o vi ser substituído, pensei, pronto, acabou. Sabe lá ele quem é o Diogo e para quê que ele havia de querer a minha camisola? Se não der a dele a este, dá a outro, pensei eu.»
Quando acabou o jogo, a tristeza deu lugar a um enorme sorriso no rosto do nativo de Vila Franca de Xira. «No final, lá estava ele para me dar a camisola. Foi uma grande atitude. Um troféu? Sim, posso dizer-lhe que já me ofereceram bastante dinheiro por ela. Sou portista, mas não a vendo.»

Arouca, Orenburg, Brasov…

A primeira época no Arouca, um ano antes do desafio na Luz, correu bem. A equipa ascendeu aos escalões profissionais, apenas um dos êxitos da história recente do clube. Depois, no final da segunda temporada (foram três no total), apareceu-lhe uma proposta do Gasovik, da II Divisão da Rússia, e foi à aventura.
«Quando lá cheguei, o contrato era afinal metade daquilo que me tinham prometido. Ainda por cima, numa cidade, Orenburg, já perto do Cazaquistão. Aliás, até havia um rio que a atravessava, de um lado ainda era a Europa, e, do outro, já era a Ásia», conta.
Voltou para o Arouca, mas nada seria como dantes. O clube acabou por não receber a verba que tinha acordado, e a saída de Henrique Nunes, substituído por Vítor Oliveira, tirou-lhe margem na equipa.
«Penso que deixei boa imagem, talvez não tanto como gostaria, e se lá tivesse ficado, se calhar, agora, estaria na I Liga. Mas fui para a Oliveirense e também correu bem. Joguei, que é o principal, e fui igualmente para um clube cumpridor», sustenta.
No último defeso, enveredou pela Roménia. «No início foi melhor, agora não temos tido resultados e já vamos no quarto treinador. É incrível. Aqui, quando não resulta, vai logo abaixo. E um futebol mais físico, gostam mais de jogadores desequilibradores do que posicionais», atira.
Mesmo assim, a equipa, onde jogam mais cinco portugueses, está acima da linha de água, em igualdade com o Otelul, o primeiro da zona de despromoção. «Saudades de Portugal? Claro. Já falta pouco para o Natal. É pena é que tenha nevado pouco. Quando cheguei, disseram-me: aqui, é rezar para nevar muito, assim conseguimos ir a casa ainda em Novembro. Respondi: isso é que é falar!» Teve azar.


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