sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Treinador do FC Arouca - Pedro Emanuel «Queremos tornar o clube sustentável na I Liga»



Pedro Emanuel Mendes, ex-defesa central com longa carreira no futebol profissional com as camisolas do Boavista e do FC Porto, é um dos mais jovens treinadores da I Liga. Aos 38 anos tornou-se a opção da direcção do FC Arouca para orientar a equipa na gloriosa estreia no escalão máximo do futebol português.
De adjunto de André Villas-Boas no FC Porto (2010/2011), Pedro Emanuel rapidamente deu novo rumo à sua carreira, assumindo a liderança da equipa da Académica de Coimbra nas épocas 2011/2012 e 2012/2013, na primeira das quais viveu momentos de glória ao erguer a Taça de Portugal conquistada ao Sporting Clube de Portugal no Estádio do Jamor. Em período de interregno do campeonato e a pouco mais de vinte e quatro horas de defrontar o Desportivo de Chaves em mais uma eliminatória da Taça de Portugal, o treinador do FC Arouca fez o ponto da situação no arranque de um novo ciclo na história do clube arouquense.
Que balanço faz da época até este momento? Está dentro daquilo que perspectivávamos. É o primeiro ano do clube na I Liga, o período de adaptação é sempre difícil mas estamos dentro daquilo que são os objectivos delineados, tentando sempre crescer como equipa. Procuramos estar sempre inseridos no grupo das equipas, em termos pontuais, que andarão ali na segunda parte da tabela, que é, de facto, aquilo que nós perspectivávamos. O único senão foi a nossa eliminação prematura na Taça da Liga.
O FC Arouca é dos piores ataques da I Liga, apenas cinco golos. O que é que tem faltado à equipa? Alguma determinação na abordagem daquilo que nós chamamos envolvência da área. Temo-nos preocupado também bastante com a nossa organização defensiva e temos melhorado a olhos vistos, até porque em nove jogos que temos para o campeonato em quatro deles não sofremos golos, e acho que isso é uma base importante para aquilo que é o nosso trabalho. Naturalmente os golos irão surgir. Não estou muito preocupado em relação a isso porque eu sei que as oportunidades têm surgido. No jogo com o Paços de Ferreira tivemos nove remates à baliza e infelizmente nenhum acertou na baliza. É esse aspecto que temos de melhorar.
O Romário está a demorar a aparecer. Ainda está em fase de adaptação? É natural, tanto o Romário como o Roberto. A realidade da I Liga é claramente diferente daquilo que é o contexto da II Liga. O Roberto tem essa necessidade e o Romário também, por ser um jovem, a quem reconhecemos grande potencial, mas que vem dum contexto de jogo e de futebol completamente distinto daquele que é o nosso, com outro tipo de competitividade e acima de tudo com outro tipo de exigência em termos de trabalho.
Foi escolha sua? Sim, todos os jogadores que estão no plantel foram escolha minha, senão não fazia sentido.
Um jogador como Joeano, que foi duas vezes o melhor marcador da II Liga, fazia ainda falta a um clube como o FCA? É público que demonstramos interesse na continuidade do Joeano numa primeira análise que fizemos do plantel. O Joeano naturalmente entrou em negociações com o presidente porque era a pessoa com a qual tinha a relação e o presidente quis assumir essa pasta. Não chegaram a acordo e viramo-nos para outras opções.
A equipa tem quatro guarda-redes. Não acha que houve uma deficiente planificação, e é pesado para um clube como o FC Arouca? Sentimos a necessidade de alguma experiência que o Cássio nos veio trazer, não só em termos de maturidade futebolística como em termos da própria idade, que nos veio dar outro tipo de capacidade que nós, infelizmente, não tínhamos revelado. A oportunidade de contratar o Cássio só aconteceu quando se desvinculou de outro emblema. Foi nessa altura que tomamos a decisão.
Temos a noção de que quatro guarda-redes para o nosso contexto será exagerado, não é positivo para ninguém, mas temos que gerir a situação. Foi uma opção da minha parte e por isso mesmo estou satisfeito com todos eles, têm trabalhado de forma afincada para merecer as suas oportunidades.
Está satisfeito com o plantel? Por vezes aponta-se se o plantel não estará desequilibrado, no sentido de que terá um número insuficiente de jogadores experientes na I Liga... Temos de ter a noção da nossa realidade. Consideramos que alguns dos jogadores que estavam na II Liga teriam capacidade e espaço de afirmação na I Liga. Demos essa oportunidade e vamos continuar a dar. Isso
são opções de equilíbrio que nós temos que ter em termos de plantel e têm-se revelado escolhas acertadas, uns com mais oportunidades do que outros, mas o futebol é isso mesmo e temos em determinados momentos de gerir essas situações.
O clube vai ao mercado em Janeiro? Disse no início da época e volto a repetir. Quando os mercados abrem, um clube como o FCA pode estar sempre receptivo a que jogadores saiam e a que jogadores entrem. Essa é a lei do mercado. Clubes do nível e da dimensão do FCA têm de passar por tentar ter a sua sustentabilidade com receitas extraordinárias que passam pela possível venda de jogadores.
Poderá passar também pela saída de jogadores que não tenham o rendimento que se esperava? Logicamente que uns poderão não estar a ser tão utilizados como gostariam e se calhar irão manifestar essa insatisfação, como é normal, e nós iremos gerir e ver o que é melhor para o clube e para os jogadores.
A saída precoce da Taça de Liga, ante o Beira Mar, afectou a equipa? Não. Nesse jogo não fomos capazes de segurar os três momentos de vantagem que tivemos. Temos outra competição, a Taça de Portugal, em que temos a possibilidade de alimentar um sonho, numa competição bastante emblemática.
Como é que tem lidado com a insatisfação por parte de alguns adeptos? Os adeptos, tal como nós, querem sempre ganhar e logicamente que quando a equipa não ganha é normal haver alguma insatisfação. As pessoas estão habituadas a uma história recente onde há muito êxito, houve subidas consecutivas e um crescimento acelerado. As pessoas estão habituadas a resultados diferentes e por isso mesmo não estranho a situação. Sei viver com isso. Nós temos a nossa linha orientadora bem definida para tornar o clube sustentável e um clube de I Liga e vamos continuá-la de uma forma serena e tranquila, com o apoio dos nossos adeptos, como temos a certeza de que o vão fazer ao longo do campeonato.
Como encara a reacção do Paulo Sérgio para com os adeptos quando foi substituído no jogo com o Paços de Ferreira? Um jogador (e já por lá passei enquanto profissional), mais do que ninguém, vive o jogo de uma forma tão ou mais intensa que o adepto. São reacções momentâneas, penso que não foi com nenhum tipo de maldade.
Caiu mal... Cai sempre mal, tal como ao adepto também cai mal estar sempre a insultar. Por isso temos que ter a noção daquilo que é a realidade e temos que ter a naturalidade para enfrentar as situações, como foi este caso, e tentar gerir da melhor forma as emoções.
Face aos objectivos de manutenção, não vê até este momento qualquer sinal de alarme para alterar a estratégia? Volto a frisar que nós temos um caminho, sabemos que é um caminho árduo, difícil, de luta e de trabalho e por isso mesmo essa pergunta, nesta fase da época, para mim não faz qualquer tipo de sentido.
Hoje há clubes com muitas dificuldades. Como tem sentido o FCA? Neste momento não há algo a apontar. O presidente é uma pessoa que se pauta pelo cumprimento daquilo que são as suas obrigações e os seus deveres. Está e sempre esteve disponível, dá sempre a cara naquilo que são as necessidades que o grupo tem e acima de tudo quer que o clube tenha essa imagem. Hoje, em todo o lado, não é fácil, e acho que ele é um óptimo exemplo de cumprimento. (foto: Victor Travassos) - entrevista publicada na última edição impressa do RODA VIVA jornal

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